terça-feira, 26 de julho de 2011

Alagoas. Às vezes não dá para fazer cara de paisagem... (parte II)

Excelente  e oportuno artigo escrito pelo Pai da Bia:

Por vezes fui tomado por arrogante quando exigia dos alagoanos um posicionamento de mínima revolta, indignação e repúdio diante dos graves acontecimentos sociais e políticos aí ocorridos desde sempre, já que a reportagem recente somente dá notícias daquilo que virou rotina há tempos, mas sempre ouvi as mesmas justificativas, de que aí estavam junto à família e que o lugar é lindo. Justificavam assim a sua permanência, mas não a apatia diante dos fatos.

Fico pensando se é isso mesmo, o amor ao lugar, que deixa a população de classe média alta, que é quem determina os caminhos do Estado, apática e/ou conivente. A sociedade alagoana apregoa como o "objetivo de vida", o
target alagoano, o poder a qualquer custo. Não sou eu apenas quem digo isso, qualquer pessoa que seja de outro Estado e que tenha morado alguns anos por aí, percebe da mesma forma.

Este poder, mesmo escuso, é louvado por nove entre dez alagoanos, e não é incomum que pessoas que conhecemos se relacionem com os mantenedores desse estado de coisas absurdo, sem a menor vergonha, fazendo questão que saibamos que eles são amigos de fulano ou beltrano, pois ser aliado dos poderosos inspira poder. Além disso apenas estes serão capazes de usufruir dos benefícios que uma sociedade forçada a ser indolente e que possui uma infinidade de analfabetos sociais oferece. Parte significativa da população acredita que em todo lugar é assim, e é preciso que esta sociedade acredite nisso, pois a medida que se derem conta de que esse ambiente indígno pode ser mudado, os poderosos correrão sérios riscos. A doutrina do choque funciona bem em Alagoas. Todos sabemos disso. Não se espante que isso tudo seja planejado e que possua metas claras que acabam em números a mais em contas bancárias de uns poucos "iluminados" cidadãos alagoanos.


Os horrores são praticados pelos mesmos que passeiam pela orla de Maceió como autoridades, que possuem sectários, vou mais longe, possuem fãs. O modelo de sociedade dominante é copiado por muitos e passado por herança por outros tantos. Esse entendo ser o maior dano social, a distorção moral aí implantada.O poder nesse espaço nordestino é visto como em todo o seu restante, admirado e almejado, mas totalmente desregrado e com acentuado teor de ganância. Isso é alimentado para que existam sempre capangas para fazer (às vezes) o trabalho sujo com a promessa de tornarem-se "coronéis" um dia. Apesar de que nesse caso existem gradações, poderíamos caracterizar as classes de "coronéis" na sociedade alagoana, onde podemos ter um amigo do ex-Presidente Collor que se utiliza dessa influência para obter vantagens, da mesma forma temos um dono de Mercadinho na Grota do Arroz que é amigo de um cabo da polícia, e usufrui dessa influência para obter vantagens. Qual a diferença na atitude? No meu poto de vista, nenhuma. A diferença é o tipo de vantagem obtida, mas só não se configura na mesma por uma questão circunstancial. No meu entendimento, a distorção moral é a maior mazela local. Difícil de ser debelada.


Acredito que essa distância estabelecida conscientemente, entre ricos e pobres, que a sociedade capaitalista mundial criou com objetivos claros e bem definidos, tem sua melhor representação pela atual sociedade alagoana, que remonta aos tempos dos feitores, em que o controle estava todo baseado em hierarquia e medo. Esse modelo não é novo, mas possui seus
upgrades em tempos modernos. O caos e o medo são instrumentos de controle que esse modelo nunca abrirá mão deles.

Solução? Políticas públicas reais de inclusão social por meio de educação de base forte e da ampliação (se é que existe?) da presença do Estado nas áreas de vulnerabilidade social, não para reprimir e sim para acolher e dar oportunidades de mudança no contexto social dessa população, que ora usufrui desse estado degradante, por não ter opção, ora é vítima, também por não ter opção. A questão maior é quem da sociedade alagoana quer que isso seja implantado? Quem terá coragem de enfrentar os "poderosos"?

 
Quem são (ou serão) as pessoas que possuem consciência e firmeza de propósito suficientes para tornarem-se a fortaleza inexpugnável da mudança?

Em tempo.


Um conhecido deu de presente uma bicicleta ao filho de 15 anos, após longos meses de insistência do adolescente. No primeiro passeio, na primeira meia hora, ali próximo, na segunda quadra de seu luxuoso apartamento na Ponta Verde, ele foi assaltado. Por sorte lhe levaram apenas a bicicleta e o celular.


O lugar continua lindo... a pergunta é: pra quem?


Abraços

Profº. Valdemberg Magno do N. Pessoa
Coordenador da Área de Indústria
IFRN - Campus Natal Zona Norte

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