terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Opinião: Política bronca, corrupto bacana e povo sem memória. Por Rita Mendonça.

Matéria publicada na Folha de São Paulo de 12/11/2006 afirma que relatório de auditoria do TCU prova que 54,5% dos R$ 150,7 milhões dos recursos que o Governo investiu, entre 1999 e 2005, em organizações não-governamentais, principalmente por meio do Ministério da Saúde e o da Ciência e Tecnologia, contemplaram instituições incapazes de executar os respectivos convênios celebrados.

Segundo a notícia, a conclusão do TCU foi baseada em amostragem, sendo analisados convênios com ONGs que deveriam prestar serviços nas áreas de saúde indígena, concessão de bolsas de estudo, capacitação para o primeiro emprego e compra de ambulâncias. A falta de controle do Estado, sobre as ONGs, foi apontada como a principal causa da “sangria desatada” e inócua de recursos públicos.

Não se trata de nenhuma novidade, não é? E é justamente isto que intriga: como é que os biltres que surrupiam o dinheiro público continuam atingindo o seu intento se utilizando sempre da mesma trama, sem sequer se dar ao trabalho de elaborar estratagema novo.

De fato, o que causa mais indignação, é que ainda assim conseguem se dar bem. Damos nosso consentimento. Esta é a única explicação.

Será que a nossa ingenuidade é tamanha, ou que não somos capazes de vergar o sistema de corrupção e aliciamento?

Enquanto buscamos a resposta, a maioria de nós observa os rebentões se arremessarem sobre os recursos públicos, sem que nada temam. Nos posicionamentos a uma distância que, pensamos, segura, (sentadinhos e indignados, nos posicionamos, há pelo menos um metro e meio da tela da tv, como mandam os especialistas).

Nessa trama, lamentavelmente, cada um executa seu amargo papel para a ladroeira subsistir. Até os que se omitem – nós da poltrona – têm sua parcela de responsabilidade.

Está mais ou menos assim a nossa postura como cidadãos diante das reiteradas notícias de assaltos aos cofres públicos: de “indignada paralisia”. Sentimo-nos ultrajados, mas pouco, ou nada, fazemos.

E não é exatamente por causa dessa “sonolência coletiva” que o ardil funciona!?

Uma minoria politicamente consciente e atuante, por mais que tente, não conseguirá trazer modificações ao cenário social, suficientes para compensar a apatia do todo. Precisamos acordar. E rápido.

Já se conhece bem essa história. O enredo é secular. E cada parte vem interpretando o seu malsinado papel, meticulosamente: o Poder Público se faz de “bronco”; o estelionatário de recursos públicos (bem vestido e articulado) se faz de “bacana” e o povo, nas eleições (justamente a hora de dar um basta na roubalheira), se faz de “esquecido” (esquecer, mesmo, ninguém esquece. Sublima, mas não esquece).

Não tomamos consciência, ainda, da força que tem nosso “Exército Branco”, munido de palavras e atitudes conscientes (em vez das armas tradicionais), se arremessando em bloco em defesa da moralidade pública. Talvez por isso permaneçamos apáticos.

Temos o governo que merecemos!? Ah, não! Tem muita gente de bem, merecendo conviver com “prata fina”, em vez de com o “lixo fedido” que equivocadamente levamos às casas legislativas e aos postos de administração da coisa pública.

Não esqueçamos de nossa força, nas próximas eleições. Mas enquanto isso, como a vida é feita de pequenas coisas, vamos fazendo escolhas singelas, mas conscientes, em nosso dia-a-dia, até como treinamento para o “grande momento”, está bem?

Então, pensemos com critério na escolha de nosso síndico, do nosso dirigente sindical, do diretor do nosso clube recreativo, do presidente do nosso conselho profissional e até na escolha dos nossos amores.

Se bem que nesse último caso, o erro é perdoado. Se formos desajeitados na arte da conquista, o problema é só nosso. O que de provável vai nos acontecer, é ficarmos sozinhos, sentadinhos em frente à tv indignados com as notícias de corrupção, e sem ninguém para nos fazer um bom cafuné. O insucesso de nossas investidas amorosas não traz riscos aos rumos do país e a segurança da população. Erremos na escolha, então. Mas só na do grande amor.

* Texto publicado na edição n.º 36 do Observatório Alagoano (www.observatorioalagoano.com)

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