domingo, 18 de setembro de 2011

Áudio-descrição: dissertações defendidas na UFPE

A semana que passou,  se foi um estouro de emoções, o foi também de orgulho e deleite.
 
A ciência se esmerou em produzir dois trabalhos que, certamente, somarão aos esforços de seus pares na busca por uma sociedade mais inclusiva e menos excludente, em que a acessibilidade comunicacional vem como um instrumento para o empoderamento da pessoa com deficiência.
 
Trato das pesquisas de Paulo Vieira e Ernani Ribeiro, cujos trabalhos ("O PAPEL DA ÁUDIO-DESCRIÇÃO NA ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS COMUNICACIONAIS NO MATERIAL DIDÁTICO NO ENSINO MÉDIO" e "A IMAGEM NA RELAÇÃO DE EXPRESSÃO COM O TEXTO ESCRITO EM LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA - contribuições para a aprendizagem do aluno surdo"), defendidos na Universidade Federal de Pernambuco, UFPE,  foram inéditos por, de um lado, versarem no campo da áudio-descrição de imagens no livro didático;  de outro, por trazerem a áudio-descrição como ferramenta de benefício comunicacional aos indivíduos surdos.
 
Com tradução para Libras, leitura dos slides e descrição dos eventos visuais, contidos na apresentação, as defesas das dissertações foram, ainda, um exemplo
de que a pessoa com deficiência, uma vez respeitada, pode exercer os mais diversos papéis sociais e laborais a que desejar.
 
O orientador dos trabalhos e presidente da banca, prof. Francisco Lima conduziu os trabalhos, partilhando a arguição com os Doutores Jefferson Fernandes, Tícia Ferro, Rafaela Asfora e Wilma Pastor, pesquisadores na área da inclusão, da fotografia e teatro e a pessoa com deficiência visual, na psicologia cognitiva, nos estudos da Língua de Sinais e áreas afins. O próprio orientador, pessoa com deficiência visual, é pesquisador nas questões que envolvem o processamento mental de representações hápticas, como desenhos em relevos e outros. 

Ambos os trabalhos serão, após os ajustes de praxe, destinados à publicação na forma de artigos e de dissertação propriamente dita.
 
Com o estudo aprofundado da literatura estrangeira e doméstica, os trabalhos examinaram as diretrizes de países como Alemanha, França, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. 

Muitas páginas foram traduzidas e muitas mais produzidas, a partir da literatura examinada.
 
As dissertações trazem, assim, contribuições para o estudo da áudio-descrição, tanto quanto para a efetivação dela nos meios audiovisuais e no material didático usado por pessoas com deficiência e seus pares sem deficiência.   

Considerando os trabalhos que os autores fizeram em livro de história e de língua portuguesa, os agora mestres Paulo e Ernani respeitaram o sentido da pesquisa inclusiva ao trazerem para ela a participação de Sujeitos surdos, cegos e com baixa visão, os quais  foram participantes nas pesquisas e não apenas informantes para
um estudo.  

A investigação científica diminuta trouxe conclusões incontestáveis a respeito do benefício da áudio-descrição para o aprendiz com deficiência visual e auditiva. 

Dados intrigantes deram a saber que os livros trazem erros que vão do uso de um navio chinês do século XVI, ao tratar das navegações portuguesas do século seguinte, até o uso de imagens meramente ornatas que não comunicam adequadamente ao estudante.   

Pior, ainda, denunciam o uso de uma gama significativa de exercícios nos livros didáticos, dependentes da visão, e que não trazem áudio-descrição, deixando o aluno com deficiência visual no limbo da exclusão educacional.   

As imagens ornatas, somadas à inexistência de áudio-descrição nos livros didáticos, deixam de fora do momento educativo as pessoas cegas ou com outras deficiências, a física, por exemplo, discriminando-as por razão de deficiência, uma vez que impedem que estudantes com e sem deficiência desfrutem dos mesmos recursos educativos, em pé de igualdade. 

A leitura dessas dissertações será fonte profunda de conhecimento aos que pretendem fazer a áudio-descrição, dos níveis mais superiores aos principiantes.
 
Logo, constituirão um marcador de águas no que tange o entendimento do que é áudio-descrição e o significado de sua prática como ferramenta de empoderamento
na educação de pessoas com deficiência.
 
Amigos leitores, guardem os nomes desses trabalhos e, em breve, dediquem tempo à leitura deles.
Cordialmente,
 
Francisco Lima 

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