domingo, 1 de maio de 2011

Pacientes psiquiátricos vagam pelas ruas da capital alagoana

Uma situação inusitada chamou a atenção de motoristas que trafegavam pela Avenida Leste/Oeste, nesta quinta-feira, 28, em Maceió. Uma mulher, aparentando entre 30 e 35 anos, trajando apenas um top de cor vermelha atravessou a avenida entre os veículos. A mulher, visivelmente desnorteada, vagava sem rumo pela rua como se não percebesse que estava nua. A situação, que está longe de ser engraçada, revela um problema grave no nosso Estado: o abandono dos doentes mentais que vivem nas ruas.

O fato é que não existem políticas públicas efetivas para resolver o problema e as poucas iniciativas existentes ainda estão em fase embrionária. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, não existem dados sobre o número de doentes mentais moradores de rua, em Alagoas, ou seja, na maioria dos casos não são cadastrados em programas, não recebem assistência, nem são 'desejados' pelos familiares.

No Brasil existem diversos programas e leis que protegem as crianças e os idosos em situação de vulnerabilidade social, sejam eles portadores de transtornos mentais ou não. Esses são resgatados das ruas, incluídos em programas especializados, levados para abrigos e protegidos. Enquanto os grupos chamados intermediários (adultos) estão à margem das políticas públicas.

Um exemplo disso aconteceu no município de Santa Luzia do Norte, Região Metropolitana de Maceió. Uma mulher de 28 anos, divorciada e com dois filhos, portadora de transtornos mentais, foi retirada das ruas pela Secretaria de Assistência Social, onde estava vivendo durante meses. A mulher, cuja identidade não foi informada, começou a constranger a população ao tomar banho e fazer suas necessidades fisiológicas no meio da rua.

Depois disso a secretaria percorreu verdadeira peregrinação para conseguir um lugar para a jovem viver. 

Como o município não possui um abrigo para acolher moradores de rua, nem um Centro de Referência para atender portadores de transtornos mentais, precisou pedir auxílio aos hospitais psiquiátricos do Estado, que a recusaram alegando que só recebem pacientes em crise. O juiz da Comarca responsável determinou que a guarda da mulher ficaria com seu pai, mas bastou um dia de convívio com familiares para que fosse abandonada na rua novamente.

Em entrevista ao Alagoas24Horas, a diretora de Proteção Social Especial da Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social (SEADES), Marluce Pereira, explicou que esses casos devem ser atendidos pelos CRAS de cada município, ou pelos CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) que tratam da violação de direitos constitucionais. O problema é que dos 102 municípios alagoanos, apenas 49 possuem o centro.

“O primeiro passo é procurar os familiares, é o que chamamos de fortalecimento do vínculo familiar. Caso o familiar não seja encontrado, o morador de rua com problemas mentais deve ser encaminhado a abrigos ou locais onde fiquem em segurança e tenham acesso à saúde e tratamento adequado”, explicou. A diretora reconhece que o problema dos municípios é que não há abrigos, assim como não há vagas nos hospitais psiquiátricos para acolher permanentemente o paciente. “O tratamento de alta complexidade é de fato um problema muito delicado”.

Segundo o Projeto Guardião do município de Maceió, um mapeamento realizado em 2010 revelou que existiam mais de 800 moradores de rua na capital alagoana. Desses, boa parte foi encaminhada ao município e estados de origem, outros retornaram ao convívio familiar e o restante decidiu permanecer nas ruas.

A diretora de Proteção Social Especial do município, Elisangella Melo, informou que além do albergue municipal, que acolhe moradores de rua, existem outros abrigos mantidos por Organizações Não-Governamentais, mas confirma que nenhum desses é especializado em casos de pessoas com transtornos mentais.

No entanto, ela destaca que há alguns programas desenvolvidos pelo município para tentar minimizar os problemas. O Consultório de Rua, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que leva ações de saúde aos moradores em situação de rua, o projeto Guardião e, em breve, o CREAS POP, que vai atuar especificamente com esse público.

A diretora conta ainda que já foi aprovada a instalação de um CAPS3, que funcionará como uma unidade de internação para casos de pessoas com transtornos mentais.

Fonte: Alagoas 24hs

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails