quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha??? Em Alagoas, as drogas levam ao vilipêndio humano, ou o vilipêndio humano leva às drogas???

Foi divulgado pela Secom de Maceió que a "Prefeitura de Maceió, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), se prepara para reforçar, a partir da segunda quinzena de janeiro, a política de assistência a usuários de crack, em situação de rua. Em parceria com as secretarias municipais de Assistência Social (Semas), de Educação (Semed), e Direitos Humanos, Segurança Comunitária e Cidadania (Semdisc), envolvendo também a Guarda Municipal, a SMS ampliará o atendimento a esse público-alvo através do projeto “Fique de Boa!”, que vem atuando no acompanhamento e encaminhamento de moradores e pessoas em situação de rua aos serviços de saúde.
A matéria afirma que em 2011, o atendimento da equipe do projeto – que vinha sendo feito uma vez por semana – passará a ser diário, dentro da perspectiva da política de redução de danos. "Nosso objetivo é abranger o maior número de pessoas com a assistência adequada a cada caso, inclusive com o direcionamento a tratamentos especializados”, afirmou a coordenadora do Programa de Saúde Mental do município, Izolda Dias.
O projeto “Fique de Boa!”atende aproximadamente 80 pessoas, entre crianças,adolescentes, jovens e adultos moradores ou em situação de rua. As gestantes nessa condição também têm sido atendidas pelo projeto, acompanhadas com ações de saúde e monitoradas com as consultas de pré-natal.
Na última ação do projeto, feita em parceria com o Programa Municipal de DST/Aids no último dia 17, foram realizados 155 testes de triagem para herpes simples 1 e 2, Sífilis, Aids, Doença de Chagas, Hepatite B e C e HTLV, numa unidade itinerante do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). Os resultados serão entregues em 15 dias e os casos que apresentarem alterações de qualquer natureza serão encaminhados para um pré-teste, para confirmação de diagnóstico e posterior tratamento.
Para implementar as ações definidas para o projeto dentro da política de redução de danos, toda a equipe de trabalho – que inclui ainda os profissionais dos CAPS, além de médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais das 7 unidades de referência no município – tem sido preparada por capacitações, seminários e fóruns que abordam as estratégias de Redução de Danos e o papel de cada um nessa nova política.
“Além de mais um Consultório de Rua “Fique de Boa!”, o atendimento será ampliado com a criação de três casas de acolhimento transitório (feminino, masculino e infanto-juvenil) e o novo formato do CAPS AD, que terá atendimento 24h. Com isso, o município de Maceió poderá iniciar 2011 consolidando a assistência nessa área”, reforça Izolda Dias.
Não poderia deixar de divulgar esta matéria. Ainda que em 'ressaca perene' das iniciativas governamentais em políticas públicas, quase todas fracassadas, ainda guardo, lá no fundo do peito, uma esperança juvenil de uma dia voltar a caminhar nas noites frescas de minha Maceió sem medo.
Dizem que o crack está acabando com Maceió.  E me indago, vez por outra, sobre o que estaria acontecendo para que o consumo dessa droga tenha aumentado tão assustadoramente nas Terras Caetés!?
Dizem que é o baixo custo, que permitiu o pobre e o miserável adquiri-la.  Dizem que em tempos de desemprego, envolver-se com o tráfico é uma alternativa para sobreviver; assim como já nos preocupou o jogo do bicho dizem. Dizem que são os tempos depressivos em que vivemos que leva as pessoas ao mundo das drogas...
Não nutro esperanças de que questão tão complexa seja equacionada nesta breve reflexão. Reflito muito mais pelo exercício. E para me diferenciar do delicioso peixe cioba, que comprei hoje após caminhar nas areias desse mel mar cor de pedra preciosa.
O que me preocupa é que venho presenciando se formar, nas rodas de intelectuais e de gestores públicos, a seguinte convicção:  viciados em drogas, os alagoanos estão perdendo seu caráter e sua dignidade para manter o vício. Estão roubando, matando e 'tocando o terror' na cidade, que já cheira a morte e a medo.
Tenho para mim que o 'buraco é mais em baixo', e que a questão é muito mais grave.
 
Em tempos de violência social, prostituição infantil, desemprego, fome, desrespeito, calotes,  impunidade, desigualdades,  ausência de segurança e de saúde, a população alagoana vem buscando nas drogas o alento para  sobreviver  e suportar as suas dores.  De que outra forma um pai encararia a fome de seus filhos?
Temo pelo que parece óbvio: as drogas não levam à degradação social; a degradação social, sob a qual sobrevive - a duras penas - a população alagoana é que leva às drogas. 
Na indagação sobre quem veio primeiro - o ovo ou a galinha - receio que a conclusão nos leve a tomada de consciência de que o problema é bem mais difícil de resolver do que estamos percebendo, até então.  
É o velho e conhecido problema de retaguarda, que os movimentos sociais já conhecem muito bem: tomo as medidas emergenciais. E depois? Tiro uma pessoa das drogas, mas o problema que lhe levou para este mundo permanece. Devolvo-o, lúdico, para o seu barraco sem água e sem energia; devolvo-o para a fome de seus filhos; para a prostituição; para a marginalidade, para o tráfico.  Nada fiz...
Medidas paliativas, como esta anunciada, com orgulho, pela Administração Pública, colaboram em 'apagar o incêndio'. Quanto a isso não há dúvida.  Mas sem que se evite que o incêndio se inicie, permaneceremos andando em círculos no combate ao crack e na luta pela cidadania alagoana.
Alagoas: "ame-a, ou deixe-a logo, antes que seja tarde demais.

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