sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A chegada da Lua - o fim de uma década


Ela chegou sedutora. Lenta, lânguida e deslumbrante.  Muito clara e luminosa, atraindo meu olhar pela sua beleza.
Não, não estou falando da lua que se põe linda para todos nós, lá no céu.  E, sim, da gatinha vira-latas que minha filha, sorrateiramente, trouxe para casa ontem à noite.
E também não estou falando de “casa”, no sentido literal da palavra. Aquelas moradias espaçosas, em que o sol bate nas plantinhas e há espaço livre a arejado para tudo quanto é lado.  “Casa”, no caso, é um apartamento de pouco mais de 70m², onde eu e minha filha – ambas alérgicas - moramos.

A Bia tem 9 anos. E a vida inteira desejou um bichinho de estimação.

O truque do aquário durou pouco. “O peixe não quer brincar comigo”, era uma reclamação constante.

Diante do “fracasso aquático”, fomos presenteadas com um jabuti, que passou a morar na varanda do apartamento.  Tudo parecia estar bem. Mas, um certo dia de chuva, quando abri a porta de vidro, percebi o jabuti todo ‘largado’. Em vez de encolhidinho, dentro da carapaça, como costumam ficar, ele estava todo mole. Pernas para fora, cabeça tombada para um lado, boca e olhos abertos. A chuva forte lhe molhando e ele nem se mexia. Pensei que estava morto (nunca vi um jabuti morto. Nem sei como é). Mas quando fui em seu socorro, ele se mexeu. Pensei, “então está deprimido”. Afinal, quem é que vai gostar, em sua sã consciência, de morar em um apartamento apertado e barulhento!? Corri e levei ele para “férias de veraneio” na casa de minha mãe, a avó dele. Ele ficou tão bem, tão ativo, tão bem entrosado, que não tive mais coragem de pegá-lo de volta. Hoje vive feliz, com mais três amigos jabutis, com quem divide muitas farras de alface, feijão, banana e carne (enquanto discutem questões existenciais, na língua dos répteis, tenho certeza).

Em razão da falta de tempo e das nossas alergias respiratórias, sempre neguei a minha filha a possibilidade de ter um cachorrinho ou um gato.

Pedidos comoventes não faltaram. Quando menor, ela até chorava e, quando indagada, respondia: “estou chorando com ‘saudade’ do meu bichinho de estimação”. Com o tempo, percebi que ‘saudade’, significava ‘estou ansiosa, desejosa’, já que nunca tinha tido um.

A Lua chegou enquanto eu recebia uma amiga.  Bia tinha passado a tarde nos estacionamentos do prédio, atrás de uma gata – que, até então, não tinha nome – e que estava se escondendo embaixo dos carros. Eu entretida com minha agradável visita, e me chega Bia, querendo um pouco de leite. Até aí, tudo bem. Era uma questão humanitária. Ou melhor: “animalitária”.  Não sabia, eu, que a gata já estava a espera do leite na porta do meu apartamento.

Quando percebi, fui lá, com ímpetos de botá-la para correr. Mas era linda... Com características da raça siamesa, gorducha, dengosa, pequenina, olhinhos azuis...  sabe o olhar do gato de botas do filme sherek? 

Provavelmente é ‘filha do pecado’ de alguma gatinha de boa família que resolveu se liberar da pressão social e “deu” ao primeiro gato vira-latas boêmio e fanfarrão que encontrou na rua. 

Seus responsáveis devem ter abandonado a ninhada, provavelmente. Como também se fazia antigamente com os filhos das moças solteiras que engravidavam.

“Não, não podemos”, disse para minha filha.

A minha amiga, que presenciava a cena, disse que foram longos ‘três minutos’ de convencimento e eu mudei de idéia.  “Como foi fácil”, dizia enquanto ria da minha cara já de apaixonada.  E quanto à história do jabuti, acrescentou: "você já pensou que ele poderia estar relaxando e em harmonia com o universo?"

A Lua Mendonça já amanheceu o dia com nome, sobrenome e caixa de areia.  Antes do almoço já estava ganhando seu primeiro brinquedo. Também já gastamos pelo menos a metade da capacidade de um cartão de memória de 2 gigas, com a máquina fotográfica, registrando suas gracinhas.

Mia baixinho, nos chamando, pois quer sentir o nosso calor. É só chegar perto e acariciar o seu pescoço, e ela deita no chão, de barriga para cima e olhos fechados, dando a impressão que todos os seus problemas estão resolvidos.  Quando a vida pega, queria ser um gato...

Por medo que eu mude de idéia, Bia está uma filha exemplar, desde ontem. Já lhe deixei claro: “se vou ter trabalho com a Lua, preciso ter menos trabalho com você”, que é para fazer valer a Lei da Compensação.  Não que ela já não fosse ótima. Mas, agora, está demais, além de nitidamente mais feliz.
Hoje de manhã deu uns bons espirros.  Mas foi antes de chegar perto da Lua. Tomara que tudo dê certo e que a rinite alérgica não nos impossibilite de acolher esse novo membro da família.

Há uns 10 anos tive uma Cadelinha Dush Hund, a Eva Luna. Embora tenha gente que torça o nariz quando digo isso: foi com ela, sim, que eu despertei meu instinto maternal e resolvi trazer a Bia ao mundo.

Desde adolescente penso muito forte em adoção. Pensei nisso, antes mesmo de pensar em ter filhos do meu ventre. Será que o paralelo vai funcionar de novo, e Lua trará para mim a necessidade de que um filho do meu coração aporte em minha vida?

Não sei... nunca me vi em tantas situações inusitadas, como nesses dias que antecedem 2011.

Segundo o mapa astral - que fiz em idos janeiro de 2007 - em 2011 eu estaria tão longe e por caminhos tão inusitados que eu nem me reconheceria. 

Dá medo; mas também dá ânsia por viver essa vida nova que se aproxima.

Que venha, 2011, com todas as suas surpresas e aparentes estranhezas.  Que venha...

Um comentário:

  1. Lindo texto, como vários outros seus.
    É a mãe cedendo aos desejos da filha?
    Longos 3 minutos e la t convenceu. Adorei.

    Voce sabe que eu gosto dos seus textos.
    Voce sabe que sou seu fã.

    Aliás voce sabe que gosto de tudo o que voce expressa e que você sabe quem sou eu.

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