A SERENATA
Adélia Prado
Uma noite de lua pálida e de gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias,
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos.
-só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
*Ao querido Lothar, que hoje me presenteou com este belíssimo poema, e que ao longe incentiva meus escritos no Blog Palavras de Absinto.
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