sábado, 4 de junho de 2011

O Papel no Varal vai participar do evento "Até debaixo d'água". Vai ser uma grande festa com muita gente legal  (ver detalhes abaixo). Além da ruma de grandes artistas, estaremos com 100 poemas pendurados, dentre eles o Poema de Sete Faces, de Drummond. Os papeis vão ficar pendurados, mas de vez em quando, quem sabe, entre uma música ou outra, rolam uns poemas no palco.

Grande abraço
Ricardo Cabús e Equipe Papel no Varal

Carlos Drummond de Andrade[1]

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo, vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


[1] Mineiro (1902 - 1987)

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