domingo, 1 de fevereiro de 2009

Com medo de sofrer preconceito, praticantes do candomblé não revelam a crença no emprego

Descrição: tórax de um homem negro, vestigo em camisa branca,
com diversos e coloriodos colares de contas no pescoço.

Já que amanhã, dia 2 de fevereiro, é Dia de Iemanjá (em Maceió, Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa. Em Alagoas, Dia Estadual de Combate à Intolerância Religiosa).
Em Maceió o dia também é conhecido como o Quebra de Xangô. Neste dia, por ordem de autoridades locais todos os locais de culto às religiões de matriz africana (conhecidos em Alagoas como Xangôs) foram invadidos, saqueados, seus objetos sagrados destruídos e expostos pelas ruas da cidade. Os Pais e Mães de Santo foram agregidos publicamente, humilhados e até assassinados.
Segue o texto para que possamos refletir um pouco sobre nós mesmos, o do que tudo isso significou para a construção de nossa sociedade.
Lembrando que somos frutos de séculos de uma educação formal e familiar que sempre nos ensinou que somente os brancos tinham direitos humanos. Muitas vezes discriminamos sem perceber. Não somos essencialmente maus, por isso. Passamos a ser maus quando tomamos consciência desses padrões equivocados e ainda assim os alimentamos em nós e nas pessoas com as quais convivemos.
Porque acima de qualquer característica visível, todos nós temos Direitos e Desejos Humanos!
Segue a matéria:
O preconceito que deixa marcas profundas nas crianças do candomblé durante sua vida escolar acompanha os praticantes da religião no mercado de trabalho. Invisíveis nos processos de seleção, muitos se declaram "católicos" na hora de traçar seu perfil em entrevistas de emprego. Ou não declaram crença religiosa com medo da discriminação.
O técnico em telecomunicações João (nome fictício), de 30 anos, trabalha em uma grande empresa de telefonia celular. Ele é um pai-de-santo da nação ketu, mas, no trabalho, todos pensam que é católico.
- É triste porque você nunca pode dizer quem é. Tenho medo porque o preconceito é uma arma. Se descobrem que sou um sacerdote de religião afro, vão pensar que sou do mal - desabafa João.
Quem foi "descoberto" sabe o preço da revelação religiosa. A doméstica Sandra Maria da Cruz, de 36 anos, foi dispensada em março após cinco anos de trabalho na casa de uma família de italianos. No dia anterior à demissão, ela conta que o patrão a viu com suas roupas afro, obrigatória para quem cumpre sua "obrigação de sete anos", período de retiro espiritual, que corresponde à maturidade religiosa no candomblé.
- Meu patrão estava de férias, mas a casa é monitorada por câmeras da Itália. Ele já tinha me dito que "não gostava de macumba". Quando voltou para o Brasil, me viu com a roupa da minha obrigação de sete anos, e levou um susto. E me demitiu no dia seguinte. Depois disso, nem pude entrar no prédio - conta Sandra Maria, hoje a mãe-de-santo Mameto Monalumpanzo, que quer dizer "mulher de Xangô em nação Angola".
Sonhos adiados
Por causa do desemprego, ela teve que fechar sua casa, em Belford Roxo, onde sonha instalar seu barracão, no futuro. E deixar sua filha com a madrinha para morar em uma quitinete improvisada, em Campo Grande. Hoje, vive de bicos e sonha em reestruturar sua vida: "Ninguém dá emprego a quem está de preceito no candomblé, só se pertencer à religião. É injusto porque somos iguais, trabalhamos igual a qualquer um e somos capazes", encerra.
Vítimas aprendem a denunciarA história de Sandra é a mesma de tantas vítimas de preconceito religioso. Um roteiro comum que mistura mágoa, indignação e a total falta de informações sobre como lutar por seus direitos. Para Carlos Nicodemos, coordenador jurídico de atendimento às vítimas assistidas pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, nunca houve no Brasil estruturas preparadas para proteger e defender quem sofreu algum crime contra a liberdade de crença.
- Não há uma política de controle de violação de Direitos Humanos por intolerância religiosa. Agora, o poder público começa a pensar, mas por causa de um movimento criado pela sociedade civil - diz o advogado, organizador-executivo da ONG Projeto Legal.
Como denunciar
De acordo com a ouvidoria da secretaria estadual de Assistência Social, no segundo semestre de 2008, foram registradas 150 denúncias sobre preconceito religioso.
O Disque Intolerância Religiosa da secretaria (2531-9757) dá informações às vítimas de intolerância e também presta assistência.
Fonte: Jornal Extra, do Rio, transcrito pelo Blog do Coletivo de Entidades Negras - CEN.
Em Alagoas, denúncias de discriminação podem ser encaminhadas ao Fórum Alagoas Inclusiva, de combate à discriminação de grupos em desvantagem. O Fórum é uma reunião de órgãos e entidades que tem como compromisso o combate à disciminação. Atualmente, a Coordenação do Fórum está sob a titularidade do Ministério Público do Trabalho, na pessoa da Procuradora do Trabalho Virgínia Ferreira. Denúncias pode ser feitas pelo telefone (82) 2123-7900 e pelo site do MPT (www.prt19.mpt.gov.br).

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