quinta-feira, 28 de junho de 2007



É preciso não esquecer nada


Cecília Meireles


É preciso não esquecer nada:

nem a torneira aberta

nem o fogo aceso,

nem o sorriso para os infelizes

nem a oração de cada instante.


É preciso não esquecer

de ver a nova borboleta

nem o céu de sempre.


O que é preciso

é esquecer o nosso rosto,

o nosso nome,

o som da nossa voz,

o ritmo do nosso pulso.


O que é preciso esquecer

é o dia carregado de atos,

a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso

é ser como se já não fôssemos,

vigiados pelos próprios olhos

severos conosco,

pois o resto não nos pertence.

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