quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Opinião: O trabalho Diginifica o Homem? Por Rita Mendonça


O TRABALHO DIGNIFICA O HOMEM!?
Crianças da favela Sururu de Capote, trabalhando!!!
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Numa plenária realizada em Santana do Ipanema, em 2003, onde o Juiz, a autoridade local da Polícia Militar e outras lideranças municipais insistiam que trabalharam durante a infância e que isso dignificou seu caráter, nos faltou cenas como esta para ilustrar nossa indignação.

Acompanhei a comissão do Fórum Estadual pela Erradicação do Trabalho Infantil, razão pela qual, presenciei o fato.

Na ocasião, o Dr. Alpiniano do Prado, Procurador do Trabalho, e meu ídolo profissional, fez uma pergunta que deixou os defensores do trabalho infantil sem resposta: "este tipo de trabalho que vocês estão vendo e defendendo, serve para os seus filhos??? Se servir, então, também passarei a defender o trabalho infantil".

Quem acha que trabalho infantil é melhor para crianças "pobres" (a rica só trabalha se for na novela) do que elas permanecerem nas ruas, não pode esquecer que o trabalho que ocorria outrora, e que todos vivenciamos, sendo, de fato, bom para nossa formação, consistia em, depois da escola e de fazermos os deveres de casa, e até brincar um pouquinho, ajudarmos nossos pais em algum pequeno negócio da família ou nas tarefas domésticas.

Não se trata mais disso. Hoje explorar trabalho infantil é a "grande sacada" que alguns "protótipos de seres humanos" chamados de empresários tiveram para diminuir custos de produção.

Até grandes empresas, como a Nike, se utilizam de trabalho infantil. Sabe-se disso, sim. Mas fica todo mundo bem caladinho, que é para não caírem as vendas dos "tênis-investimentos" que custam, no mínimo, R$ 300,00 (praticamente um salário mínimo, né?).

A seguir, transcrevo alguns trechos do Projeto Catavento, com recursos da OIT, captados pelo esforço da Dra. Virgínia Gonçalves, Procuradora do Trabalho, e que está em fase de implantação em Alagoas, a beneficiar meninos e meninas da Favela Sururu de Capote e do Lixão de Arapiraca. O objetivo é a retirada de crianças de trabalho em condição de risco, no caso, catação de lixo, pesca do sururu e prostituição infantil.

Na atividade do sururu, os meninos mergulham quase 20 metos na lagoa, sem proteção nenhuma, trazem o sururu, depois vão separá-lo da lama e dejetos com os pés (o que lhes rende cortes profundos nas conchas dos mariscos), para em seguida cozinhar o sururu em fogo de lenha, dentro dos próprios barracos onde vivem. Depois de tudo isso, é sentar em qualquer lugar e catar o sururu até altas horas. Muitos, ganham pouco mais que centavos nessa maratona.

Criança é energia, luz e alegria. No momento estático da foto, pode até parecer que eles se divertem. Se divertiram, é verdade, por alguns segundos, enquanto fiz a foto, coisa rara para eles. Não vejo diversão alguma em passar horas mal acomodado (os pontos de catação de marisco são improvisados). Às vezes permanecem horas acocorados, envolvidos em atividade nessa repetitiva.

Trabalham feito gente grande, pois sabem que é do trabalho deles que depende o sustento da família. Muitos pais são alcoólatras, muitas mães se prostituem. No dia em que fizemos essas fotos e filmagens, depois é que percebemos uma garota de menos de 10 anos, armadas, seguindo nossos passos. Será que teria força para atirar? Não sei. Não quero apostar. Prefiria que, eu e ela não tivéssemos que passar por tal situação. Para mim, segurança. Para ela, bonecas e revistinhas da turma da Mônica.

Viram na foto, que a menininha da direita, que é babá do irmão, para a mãe trabalhar, ainda usa chupeta?

Vamos refletir se trabalho infantil dignifica mesmo...

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